Você já ouviu aquele debate acalorado sobre o que é mais importante: produzir comida ou gerar energia? Pois é, essa discussão vem ganhando força no mundo todo, principalmente quando o assunto é biogás — uma fonte de energia renovável que pode ser produzida a partir de culturas como milho, sorgo e capim-elefante. Muita gente se pergunta: será que vale a pena plantar essas culturas energéticas se elas “concorrerm” com a produção de alimentos?
A boa notícia é que o Brasil pode, sim, fazer as duas coisas ao mesmo tempo. E melhor ainda: com isso, ainda pode recuperar solos degradados, dar um gás (com o perdão do trocadilho!) na economia rural e colaborar com as metas ambientais do país. Vamos entender melhor como isso funciona?
Um Brasil Que Planta Menos do Que Pode
O Brasil é uma potência agrícola reconhecida no mundo todo, mas você sabia que menos de 8% do nosso território é ocupado por lavouras? Isso mesmo. Em 2025, a área total cultivada no país girava em torno de 96,3 milhões de hectares — e olha que o Brasil tem mais de 850 milhões de hectares no total!
A maior parte dessa produção vem de culturas como soja, milho, arroz, feijão, algodão, cana-de-açúcar e trigo. E enquanto essas culturas alimentam milhões de pessoas e abastecem indústrias diversas, há uma imensidão de terras abertas por aí que estão simplesmente… sem uso.
Oportunidade Escondida nas Pastagens Degradadas
Agora, aqui está o pulo do gato: o Brasil tem cerca de 28 milhões de hectares de pastagens degradadas. São áreas que foram abertas no passado, muitas vezes para criação de gado, mas que hoje estão mal aproveitadas, com o solo empobrecido e produtividade baixíssima.
Essas terras têm um potencial enorme para serem reaproveitadas de forma inteligente — sem desmatar, sem invadir áreas de preservação, sem criar conflitos com comunidades indígenas ou tradicionais. E a conversão pode ser feita com tecnologia, responsabilidade ambiental e respeito às leis.
Onde Estão Essas Terras com Potencial?
Os estados com maior disponibilidade dessas áreas degradadas são:
- Mato Grosso – 5,1 milhões de hectares
- Goiás – 4,7 milhões
- Mato Grosso do Sul – 4,3 milhões
- Minas Gerais – 4 milhões
- Pará – 2,1 milhões
Ou seja, regiões com clima favorável, boa infraestrutura e uma vocação agrícola consolidada. E mais importante: todas essas áreas já estão abertas, ou seja, não exigem novo desmatamento para se tornarem produtivas.
Mas E a Segurança Alimentar? Não Vai Faltar Comida?
Essa é uma preocupação legítima, e é exatamente por isso que precisamos de uma abordagem equilibrada. O que está sendo proposto aqui não é tirar espaço da comida para colocar energia no lugar. É aproveitar áreas que hoje não produzem nada direito para que elas possam produzir algo útil, seja alimento, energia ou — por que não? — os dois ao mesmo tempo.
A chamada integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) é um exemplo disso: um sistema moderno e eficiente em que o mesmo pedaço de terra pode abrigar lavouras, pasto e árvores, tudo junto e funcionando bem. Assim, uma área antes degradada passa a gerar valor, empregos, renda e produtos essenciais.
E o Biogás Entra Onde Nessa História?

As culturas energéticas como o capim-elefante, o sorgo e o milho são excelentes matérias-primas para a produção de biogás. Elas têm alta produtividade de biomassa e se adaptam bem ao clima tropical do Brasil.
Quando cultivadas de forma responsável, especialmente em áreas degradadas, essas plantas ajudam a:
- Regenerar o solo, com mais matéria orgânica e cobertura vegetal
- Reduzir a emissão de gases de efeito estufa, substituindo combustíveis fósseis
- Estimular a economia rural com novas cadeias de valor e geração de energia local
- Tornar o Brasil ainda mais competitivo na corrida global pela energia limpa
E o melhor: tudo isso pode ser feito sem competir com o arroz com feijão do brasileiro.
As Áreas Já Abertas São uma Reserva Estratégica
Além das pastagens degradadas, o Brasil ainda conta com muitas áreas abertas e prontas para cultivo, que estão “dormindo” no território nacional. Essas terras já foram alteradas pelo homem (as chamadas áreas antropizadas), não fazem parte de reservas naturais e estão fora de terras indígenas. Segundo estudos da Embrapa e do MapBiomas, essas regiões poderiam ser convertidas para agricultura com baixo impacto ambiental.
De quebra, muitas dessas áreas estão próximas a polos logísticos, o que facilita o transporte, o escoamento da produção e a chegada de insumos e equipamentos. E se estivermos falando de biogás, ainda temos um trunfo: a produção descentralizada. Ou seja, dá pra gerar energia no campo, consumir localmente e ainda injetar excedentes na rede elétrica.
É Possível Fazer Certo — E o Brasil Está Bem Posicionado Para Isso
Com o apoio da ciência, políticas públicas eficientes e investimentos em tecnologia, o Brasil pode se tornar uma referência mundial na combinação de produção agrícola com energia renovável.
O Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), por exemplo, ajuda a identificar onde cada cultura pode se desenvolver melhor, reduzindo riscos e maximizando a produtividade. E a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura já aponta que usar essas terras de forma inteligente é uma das estratégias mais promissoras para ampliar a produção com sustentabilidade.
Comida, Energia e Solo Recuperado: Um Trio de Sucesso
A ideia de que temos que escolher entre produzir comida ou gerar energia é uma falsa dicotomia. O Brasil tem espaço suficiente, conhecimento técnico e vontade política para fazer as duas coisas — e ainda recuperar milhões de hectares de solo degradado nesse processo.
Essa é uma visão de futuro em que agricultura e bioenergia não são rivais, mas aliadas. Quando bem planejadas, as culturas energéticas podem complementar a produção de alimentos, melhorar o uso do solo, gerar renda para o campo e ajudar o país a cumprir seus compromissos ambientais.
O Futuro é Integrado
O desafio está posto: alimentar uma população crescente e ao mesmo tempo garantir energia limpa e renovável. Mas se há um país capaz de mostrar que isso é possível, esse país é o Brasil.
A pergunta não é mais “biogás ou alimento?” A resposta é clara: com inteligência, tecnologia e responsabilidade, o Brasil pode — e deve — ter os dois.
E ainda de bônus, um solo mais fértil, uma economia rural mais forte e um planeta mais equilibrado. Nada mal, né?
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